quinta-feira, dezembro 17, 2015

O Natal passou a ser irritante

Ora viva



O Natal é irritantemente bonito e bom. Só porque permite que sejamos bonitos e bons uma vez, com a justificação de que mais vale uma vez bom, do que nenhuma. E lá nos deixamos levar pelas ondas solidárias, os cabazes de consoada, as mantas para os sem-abrigo, os jantares bem querentes. Dia 1 de Janeiro. Não temos tempo, adorava ajudar mas…, as luzes pisca pisca apagam-se e o nosso mundinho fica às escuras, o nosso e o dos que no Natal beneficiaram da solidariedade das Marias que vão com as outras. Batemos palmas e somos todos felizes no Natal.

As empresas ganham fortunas com a solidariedade. As pessoas ganham fortunas por ajudarem e os designados necessitados ficam felizes uma vez por ano. E batemos palminhas.
Eu não sei se concordo com a ideia: antes fazer o bem uma vez, do que nunca. Eu não sei se gosto da solidariedade calendarizada e natalícia.

Contudo, ajudar é sempre ajudar. Quem precisa, uma única ajudada é abissalmente melhor do que nenhuma. Se gosto do circo à volta tudo isto, e com presépio e árvore de Natal? Este ano acho que não gosto. Acho mesmo que odeio, e odiar é tão feio numa altura de paz, amor e esperança (citação de um postal de Natal).

Há ilhas humanas que são Natal todos os dias, e que estão caladas, resguardadas das bocas do mundo, e são Natal sempre. Eu sei. Mas longe de serem a maioria. Longe de contagiarem o mundo por esta bondade.


Eu faço parte de todos estes esquemas estratégicos de ser solidário. Não sei é se me apetece para o ano. Todas as palavras que escrevi são para mim, também. Os 40 são tramados.

Feliz Natal

Palminhas! J

domingo, novembro 29, 2015

MUITA CONVERSA

Ora viva


Globalmente as pessoas falam muito. Eu falo muito, nos dias de hoje. Contrario-me, mas falo. Portanto, as pessoas ouvem pouco. Sempre fui uma pessoa na linha das pessoas caladas, e virei apresentador, o tipo que fala. Falar para televisão, não é falar socialmente. Estas minhas palavras refletem sobre as conversas sociais, entre amigos, a família, conhecidos, trabalho. Eu gosto de gente sintética, intensa e sintética. 

Podemos ser objetivos sobre qualquer assunto sem dar a volta o mundo para voltar ao mesmo dito assunto. Ser rápido na conversa, não tem de ser atabalhoado, a despachar. Nada disso. Ser rápido na conversa incentiva a atenção do nosso ouvinte. Óbvio, ninguém tem paciência para quem usa os verbos e adjetivos de todo o dicionário para falar de uma ida à mercearia.


Há também os que falam muito e de tudo. Não. Silêncio. Por favor. Um pouco de silêncio que nos ensine a ouvir. Calados também estamos bem. Nem tudo precisa da nossa opinião. Silêncio, porque se pode cantar o fado, a qualquer instante.

abraço

domingo, novembro 22, 2015

Paris

Ora viva

Todos podíamos ser Paris. Estive, pela RTP, em reportagem onde 7 atentados mataram gente como nós. Nunca terei palavras para um cenário de morte num sítio onde deveria haver luz e festa. As pessoas que morreram estavam a viver, tranquilamente, e morreram, aterradoramente.

O que aconteceu em Paris, acontece em todo o mundo, num mundo mais pobre, menos político, menos interessante mediaticamente. As mortes por atos de terrorismo cresceram muito. Mas nem de todas as mortes ouvimos falar. Outras mortes, longe de Paris, de gente como nós. Nem sabemos os sítios, nem vos digo agora, porque não escrevo aqui para informar, mas para pensar alto. Pesquisem, vão ficar assustados, e tristes por não se aperceberem que Paris é uma entre tantas feridas.
Ver os rostos de quem morreu, e que só estava a jantar com a namorada, é inquietante. Morrer porque se estava no sítio errado; provavelmente era um casal que tinha primos muçulmanos  e que naquela noite, juntos, iam fazer uma vigília contra a violência.

O mundo é pequeno. Na dor e na paz. Nós não estamos longe de nada disto. Estamos perto e fazemos parte desta história.




Abraço

terça-feira, outubro 13, 2015

SOL

Ora viva



A vida podia ser menos que o sol, mas não é. Com o sol, vem as coisas e pessoas que encontramos e olhamos. Com o sol vem o alimento do lado feliz da vida, uma vida em flor. Com o sol vem a casa luminosa, o brilho dos objetos, a transparência, o sabor do mar, a pele morna. 

O sol de todo o ano sabe-me a vida, a vontade de abrir janelas e portas. O sol alimenta-me a vontade. A luz é solene e mostra caminho.



Um dia luminoso é um dia com certezas e confiança. O sol amansa a alma. Convida a esticar a pele e deixar que a luminosidade nos aqueça. O sol é uma melodia constante de boas vontades; não será isto tudo o que precisamos para conseguir a felicidade?

abraço

terça-feira, outubro 06, 2015

A minha mãe

Ora viva



A minha mãe é um mundo, as mães são um mundo. A minha vai à luta, tem 79 anos de vida dura, nunca lhe deram nada, tudo o que tem foi conquistado por ela, até a vida de cada dia. A minha mãe enche a minha alma de segurança, a mesma que eu precisava quando chegava de um dia de escola e, com urgência, precisava do colo da minha mãe. 

Quando tinha 12 anos fui para o seminário, passava uma semana longe do regaço da mãe; lembro-me, como se fosse hoje, das despedidas semanais. A minha mãe dava-me um beijo e um abraço, nesse gesto colocava o amor que não podia dar-me durante a semana em que eu estava no seminário. Essa injecção de amor durava-me toda a semana; em bom da verdade a quarta-feira era o dia em que eu precisava do seu amor, porque já ia longa a semana. Era à quarta-feira que a minha mãe me podia ligar para o seminário e nesse dia recebia novo carregamento de amor. 

Ainda hoje é assim. A minha mãe abastece o meu coração de amor, determinação, garra, responsabilidade e perseverança. Aquilo que a vida nos dá, é aquilo pelo qual lutamos; foi sempre o que aprendi da minha mãe, Margarida de nome.

Um abraço

quinta-feira, setembro 24, 2015

A MINHA VARANDA

Ora viva

Da minha varanda vejo o mundo. Hoje, a meio da tarde, estava saturado de ideias, confusões do dia, leituras…enfim, precisava de ar. Fui até à minha varanda, fechei os olhos, desliguei-me. Consegui ouvir os sinos de uma Igreja que nem sabia haver perto, um avião, o mar, os pássaros no adeus do Verão, a rua, o silêncio. Ouvi isto tudo, e deixei de ouvir as minhas confusões que me torravam o cérebro. 

Pensar é um movimento tramado. Exige tudo de nós. Depois precisamos de varandas que nos levem para outro lado da nossa vida, onde até pode haver silêncio e outras coisas que nos fazem falta. Haja uma varanda que nos aproxime de tudo o que é realmente importante.

 Qual é a vossa varanda?

abraço

segunda-feira, maio 04, 2015

TODO O TEMPO QUE O MUNDO TEM

Ora viva



Perante o tempo…somos impotentes. Todo o tempo, da meteorologia ao relógio. O tempo mostra-nos o nosso lugar. Somos instantes pequenos no infinito universo da história universal. No meu dia-a-dia, no que ao tempo do relógio diz respeito, sou organizado e só gasto tempo com quem gosto, naquilo que gosto. O tempo é precioso, irrepetível. 

Quanto à meteorologia, tirem-me da frente nevoeiro e ventanias. Mas o que nos adianta não gostar, se não pudemos mudar, não adiantamos nem atrasamos. Perante o tempo somos aquilo que somos sempre, frágeis. De que vale a correria, se na corrida passamos ao lado de tanta coisa que pode distinguir a nossa vida. De que me vale amuar em dias de vento e nevoeiro, se a roda dos dias avança na mesma? 

Viver é o melhor remédio. O melhor e o maior remédio que temos. Extraordinária oportunidade diária. Momentânea. Aproveitem. Tudo. Ao máximo.

ABRAÇO

Hélder

segunda-feira, abril 27, 2015

OS OUTROS

ORA VIVA


Os problemas dos outros são sempre dos outros, ainda que amemos profundamente os outros antes dos seus problemas. É sempre um conflito entrar na história da outra pessoa. Não há um livro que registe a memória, as emoções, as estratégias. Não há um livro de estilo. Por mais que nos esforcemos a história nunca será a nossa. Honestamente, acho que não deve ser. A objetividade é sempre uma ferramenta para lidar com a crise.
Esta distância sobre os problemas que não são os nossos pode fazer de nós maus ouvintes, e até insensíveis para com a dor dos outros. Nunca percebemos bem o que é um dia complicado de um amigo se não vivemos o dia desse amigo. Fazemos uma ideia.
Nunca entenderemos a morte de um pai de um colega de trabalho porque não sabemos da dinâmica que havia entre ambos, e nem conhecemos o lugar mais secreto da afetividade que os unia ou desligava. Os outros serão sempre os outros e nunca nós, por muito amor que lhes tenhamos.

ABRAÇO

sexta-feira, abril 10, 2015

Laranjeiras em flor

Ora viva

Laranjeiras em flor é o melhor e maior sinal de verão, frescura, liberdade e sabor a vento. Uma ida ao nosso Alentejo ou Algarve, por esta ocasião, é dar o melhor mergulho na infância. As correrias pela rua, a bicicleta, as casas muito brancas, as escadas dos jogos sem fim. Tudo isto é, para mim, laranjeiras em flor. A par do aroma, que me fica na boca, a beleza da flor. Tão bonita como frágil, dura tão pouco e marca tanto. 

No fim do perfume e das flores, vem o fruto, que fresco recebe o verão. Uma laranja fresca no fim de um almoço de verão, entre amigos e abraços, é a melhor forma de celebrar a criação da cor, da amizade, da sede saciada, da memória de antigamente. Tanta coisa numa flor de laranjeira, que as grandes perfumarias bem tentam eternizar mas não conseguem, ninguém consegue pôr tanto num frasco. 

abraços

sexta-feira, março 06, 2015

perder e vencer

Ora viva

Perder pode ser uma incrível forma de vencer. Tenho várias derrotas na minha vida, algumas ainda não engoli bem. Grande parte delas deram-me vitórias nos dias de hoje. É assim comigo, é assim com o mundo inteiro. Dar a volta. Fazer do velho novo. Reconverter. Recomeçar. São verbos que gosto. Perder alicia a nossa paciência, a nossa resistência, fortalece o sopro da nossa vontade. Perder é tramado, dá a volta à tripa da nossa existência. 

Eu nunca daria tanto valor às minhas vitórias se não tivesse as minhas derrotas, as minhas quase tragédias. Mas não é tudo estrada à frente. Perder pode ser uma pedra no sapato e na mente. Perder esgota, gasta e consome. Perder derrete-nos por dentro. O bom é agarrar na lama dessas derrotas e dar músculo à vida, limpar a cabeça, limpar a casa da alma, perdoar e avançar. Não há outra, nem melhor, forma de vencer.

abraço

terça-feira, fevereiro 10, 2015

O frio

Ora viva

Podia custar menos, mas custa muito, passar frio! Podia não me saber tão bem, mas sabe-me a vida, músculos, palpitações. Sou fascinado por dias de Inverno, frios, cheios de sol, com árvores despidas e gente agasalhada na rua. Sabe-me melhor a bebida quente, as camadas de roupa, a luz abrigada, a forma das coisas, a mesa. O frio chama-me ao centro de mim, concentra-me. É assim, nem mais nem menos. 

Por norma levanto-me cedo. Como repórter tenho uma vida exposta ao frio, chuva, calor, desconforto, conforto, tudo num mesmo dia. Custa, muitas vezes, mas gosto, quase sempre.
A par de tudo isto há o olhar a natureza e saber que ela está abrigada dentro de si mesma, a preparar-se para sair, mostrar a sua beleza numa primavera que se quer sempre morna e com os dias a crescer.


Por tudo isto, o inverno sabe-me bem. Leva-me para o melhor de mim, o melhor de tudo o que ciclicamente vai nascer. E recomeçar pode ser tudo o que é esperança.

Bons dias de inverno

até já.

HR

terça-feira, janeiro 27, 2015

JANEIRO


Ora viva


Janeiro é o mês das concretizações. Em dezembro desejamos, em janeiro cumprimos. Pode ser? A ser, janeiro é um mês difícil. Todos falhamos nas concretizações e por conseguinte todos ficamos aborrecidos cá por dentro, é o pior dos conflitos. Eu gosto do inverno, muito. Gosto do frio, da regeneração, das mesas fartas, da lareira, do vinho tinto, de tisanas quentes, das malhas e blusões, do sol de inverno, da luz das manhãs frias.
Para mim, todos estes gostos inspiram à concretização dos meus votos de dezembro. Um dia, uma possibilidade, e com um cenário meteorológico excelente. Provavelmente é por isto que gosto tanto do inverno, de janeiro e de falhar com objetivos; sei que posso sempre voltar a tentar amanhã, porque amanhã ainda é janeiro e um ótimo dia de inverno: a altura ideal para recomeçar.

até amanhã

hélder