terça-feira, fevereiro 27, 2024

NÃO SOU CARNAVAL, NEM PASCAL...

 


Não sou do carnaval. As poucas vezes que me mascarei foi em criança, uma em adulto, e a que guardo na memória foi um fato de palhaço que a minha mãe me fez, dos pés à cabeça, e lembro-me de como ela estava feliz com a minha alegria. Esse carnaval guardo, esse sim, porque vestia a roupa que desejava, feita pela mãe que sabia como eu queria ser, mais do que um palhaço, na verdade. Tudo o resto é para apagar da memória. Porque não gosto? ... por nada em especial; acho estranho, não condiz com a minha personalidade, não me diverte, nem me acrescenta. Mas... total respeito pela folia e foliões, façam a festa à vontade, mas não é a minha praia. 

O mesmo acontece com a Páscoa. Sei bem o sentido religioso e espiritual de festividade, pela minha formação em Teologia, e por ter quase, quase, quase sido padre. Mas conhecer a doutrina não me chega para amar a solenidade. A melhor memória... vem sempre a mãe; fazia um cesto cheio de flores do campo para receber o compasso, e com ele um bolo festivo e a melhor garrafa de Porto. Só as flores enchiam-me a alma, como era possível tanto com tão pouco. De madrugada, lá ia a Margarida apanhar as suas flores, que deveriam sorrir com o nome de quem as ia colher, e até acho que havia alegria nas flores por saberem que iam embelezar uma mesa, com toalha de branco esmerado para receber uns homens tristes, apressados, com uma cruz de sacrifício. 

Porque não aprecio a Páscoa? ... porque não gosto do sacrifício para a redenção, essencialmente isso. Não gosto da dor, para perceber a alegria do não sofrimento, não gosto de perder para dar valor ao que se tem. A vida aprende-se com a leveza, com a alegria, com a verdade, com a partilha e a exigência da verticalidade. E todos sabemos que não é assim, as grandes lições estão na mais profunda das dores, mas mesmo este facto não me faz querer celebrar a vida só porque houve a dor e a morte, em modo de cruz. Não me enche a alma, o meu entendimento não percebe, e, certamente, a minha fé é curta para tanto. Prefiro a vida pela vida. Mas, total respeito e alegria com quem se alegre e celebre com a Páscoa, essa passagem da morte para a vida, de uma margem para outra. Eu sou dos que preferem a passagem da vida para a vida, e sim, sei que nem sempre é assim, mas nada me impede de preferir este lado da história. E... sim, gosto de fotografar Cristos, como o da imagem, algures por Espanha.

A todos... dias felizes, de vida. Antes, durante, e depois da Páscoa.

Hélder

quinta-feira, janeiro 18, 2024

DEPOIS DA DOENÇA VEM A BONANÇA



Fui operado a um pulmão há 2 meses. Programado e preventivo. Já está tudo bem. Passado este tempo, olho para aquelas 3 semanas de novembro. Somos matéria frágil, achamo-nos imprescindíveis, imortais, charmosos, gloriosos e cheios de futuro. Eis o travão, a fragilidade do corpo. Nada de mal em não conseguir ir à casa de banho sozinho, não conseguir respirar na plenitude, nem dormir. Nada de mal porque, no meu caso, eu sabia que era provisório. E tantos os que enfrentam estas limitações e não sabem quando acaba o calvário? Não há nada como a doença e a fragilidade do corpo para dar ordem à vida, é o choque térmico que precisamos para valorizar a nossa integridade de agora, e a realidade de cada agenda do dia. E que todos possam pensar sempre no dia seguinte...

Porque será que quando olhamos para o passado as maiores marcas são as dores? Eu acho que é assim porque também foram esses os momentos de oportunidade para termos um pico de evolução. O outro lado da moeda. São duas dores, a circunstância e a mudança. Mas depois... e até que valeu a pena.

Na fase da minha operação, outra nota dos dias que me surpreendeu foi quem esteve. Tão bom receber colo quando nos sentimos efetivamente frágeis. Gente que está, o tempo certo, sabendo que quem está de cama não tem vida para cerimónias, nem longas conversas. Gente que se faz presente com gestos diários, simples e de delicado cuidado. Gente que cuida, mesmo longe. Também há os que usam a expressão se precisares de alguma coisa diz, e nunca mais querem saber, ou os que sabendo, não ligam nenhum. Eu percebo, a vida dos atentos não é para todos, porque a vida violenta a atenção. A Sophia dizia que o poema exige atenção. Eu também acho que a vida e o amor exigem atenção, sem ela... 

E pronto, estejam atentos, há muitas formas de se estar, fazer notar e ajudar. E na doença, sendo possível, aproveitem a maravilha que é estar melhor no dia seguinte.

terça-feira, outubro 24, 2023

Sê forte quando te apetece ser fraco?

 

Pessoalmente, estou cansado dos otimismo, do aqui e agora, vive o momento, aproveita as dores e constrói-te, isto estava destinado para a força que tenho para enfrentar. Porra para tudo isto. Estou com a Joana Marques... do contra. Porquê? Porque temos o direito e a normalidade de chorar baba e ranho, de baixar os braços, de dizer uma carga de palavrões, perguntar por Deus, porquê a mim, e deitar no sofá, para além do nosso corpo, deitar a alma, o passado, o presente e até o futuro. O que não podemos é ficar aí para sempre, mas se precisamos disso, qual o mal? O pior que me podem dizer quando estou no pior de mim é dizerem:  força, vai passar. Como sabes? E onde vou buscar força se não tenho nenhuma, e que tal dares uma canja e um abraço.

Não estou desacreditado, estou sereno, confiante e esperançoso, mas farto das teorias de positividade e de gente que sei que chora baba e ranho por não ter companhia na cama da vida, um emprego de sonho, uma paz de família. Na verdade, problemas de todos os nós, só que vende bem estar bem, ou sem conhecer o bem o que é estar em paz consigo mesmo. Entrem em guerra por dentro e depois... depois de cansados, experimentem a paz e o silêncio da reconciliação. Porque a vida é difícil, mas é incrível, e difícil.

Hélder


terça-feira, setembro 26, 2023

A VIDA É BOA

 


A vida é boa, não é uma boa vida. Porque a vida está difícil, financeiramente, socialmente, no trabalho, ambientalmente, internacionalmente... nós sabemos, e mais do que isso, nós sentimos. Contudo, tenho de olhar para minha vida, também. Ela é boa, porque me permite usufruir da luz, do sossego, da concretização, da paz, do amor, da solidão voluntária, da casa, das viagens, do crescimento interior, da saúde. Só tenho motivos para ser grato. Metade luz, metade vida.

Também é boa porque sei lidar com a dor de quem já não tenho, com a malicia, com as desilusões, com o medo, com a frustração, com a minha falha; tudo isto, sabendo lidar, faz da vida... boa.

É incrível a sensação da luz no rosto, o sal do mar na boca, um bom vinho com o céu estrelado, a liberdade do campo, a liberdade da vontade, o vento nas mãos suadas, os casacos em dias de frio, a água fria com sede, as maçãs frescas e rijas, a fruta da árvore, uma nova viagem, uma lareira a acompanhar um jantar, um abraço honesto, um beijo na boca, observar os pássaros, as mãos na terra, os pés descalços, alongar os músculos, espreguiçar-me de manhã, ter calma no dia, as árvores nos seus tempos... a vida é boa, a minha vida é boa porque tem estas vidas. Sorte a minha, sempre que não a sei complicar e me fico com a luz, naquela metade de mim.

Até já.


quarta-feira, junho 28, 2023

OS COMENTADORES E EU

 




A vida não anda fácil. Sabem bem disso. Há uns anos decidi mudar, o que como, com quem estou, quem ouço, as escolhas, mais desporto e como me informo. É tão importante a informação que escolhemos ter. Confesso, não alinho em comentadores. Respeito total, mas não quero que me metam a pensar nas ideias que eles criaram, e por vezes profundamente alarmistas, e acabam, na sabedoria do tempo, por serem ideias só populista e vazias na verdade da história. Nem todos os comentadores, claro, mas bastantes caem na tentação do futurismo alarmista. É o que sinto.

Eu não quero que me encham a cabeça de ideias, eu quero ter a minha ideia, leio um jornal credível e tio as minhas conclusões, se tiver dúvidas, aumento o leque de informação. Não leio opiniões nem ouço debates de opiniões. É a minha escolha, quero factos, não quero projeções.

Sinto-me menos poluído, menos alarmado e mais sereno. Porque para caos, já me basta o mundo em que vivo.

Esta é só a minha opinião, com total respeito por quem opina e por quem escolhe ouvir comentários.

Abraço, Hélder

terça-feira, maio 30, 2023

ALEGRIA DE VIVER


 Estão à frente do nosso nariz bons motivos para cultivar a alegria de viver. A vida não anda fácil, mas anda possível. Certifique-se que vê o sol brilhar, ou a chuva cair, que sente o perfume de um alecrim e consegue dar uma caminhada à beira mar. Veja como está a sua planta, se está regada, se tem pó, se precisa de mudar de janela. Já reparou, ao abrir a janela, que o ar anda fresco? E que as árvores da sua rua estão mais crescidas? Não é incrível molhar as mãos e sentir a frescura da água escorrer pela pele, e aproveitar e passar essa água no rosto, sentir que estamos acordados para sentir a vida, e não a deixar passar nos intervalos da nossa atenção. Tenho a certeza que vai encontrar alegrias de viver em tantos destes detalhes...


Abraço

Hélder

segunda-feira, maio 15, 2023

E SE CHOVER?


 Seja em que altura for, a chuva é sempre limpeza, rega, fertilidade. O país vive seca, nem lhe vou dizer o que dizem os estudos, decerto devia, mas este blogue é de palavras livres, não de factos, contas e jornais. O mundo não está de saúde, Portugal está empoeirado, não chove, há pouca água... e não se faz nada? Fazer com que chova... não dá, mas há centenas de formas de poupar água e estabelecer modos de distribuição da água pelos grandes utilizadores da mesma... os políticos estão à espera que lhes falte na torneira para tornar isto um problema a ser resolvido. Quando faltar na torneira, as alfaces morreram, os lagos secaram, os rios morreram novamente, os pomares secaram, enfim... a vida murchou.

Eu uso a água que antecede o meu banho para regar as minhas plantas. Lavo a varanda com regador e não com mangueira. E lá vou dando o meu contributo. Não sei fazer com que chova, mas sou agricultor, gosto de uma natureza verde, e não há verde sem água. Não há agricultura sem água, não há turismo sem água, nem parlamento, nem campanhas eleitorais, nem carros, nem eletricidade. A vida desidrata-se.  A terra tem a garganta seca.

A chuva é um fenómeno maravilhoso, na dose certa, acalma-nos, chama-nos para dentro de casa, apela à observação e.. torna o mundo mais saudável. Se não chove, valorize a água que gasta. A água é o ouro do futuro, acredite.