terça-feira, janeiro 07, 2014

OUVIR



Ora viva

Ouvir é um exercício. A dedicação ao outro. Prova máxima de respeito, curiosidade e humildade. Eu conheço uma pessoa pela capacidade que esta tem de ouvir. Basta-me isso. A minha vida é, há muito tempo, dedicada a este ofício da atenção. Não posso fazer boas perguntas se não escutar respostas. Às vezes custa-me ouvir algumas entrevistas, porque o entrevistador simplesmente não ouve. Não há boas perguntas sem respostas.

Noto se me estão a ouvir pelos olhos e pelas mãos. Denunciam mentirosos, falsos ouvintes. É claro que nem sempre estamos com capacidade para escutar, e há gente muito chata, mas se nos dispomos a ouvir, então que assim seja. Há, contudo, gente que nos desafia, gente que para dizer uma palavra, usam dez. Gente que para ir a um sítio da conversa, vão primeiro a cinco. Pois, há gente difícil de ouvir, gente que não diz nada, gente que diz tudo, gente que não interessa acatar. Mas para saber disto, temos de nos calar e ouvir. Nem mais, nem menos.

Até amanhã
Hélder

quinta-feira, janeiro 02, 2014

DAR




Pergunto-me muitas vezes: o que posso fazer pelo mundo? Não sei.

Nem sei se as pequenas coisas ajudam a coisa no todo. Faço-me entender? É fácil constatar que a terra que nos dá lar não anda bem. Todos os dias, no meu dia-a-dia, encontro situações tão desesperantes, tão delicadas, tristes e que me apertam por dentro. E não consigo fazer nada. Ou por vezes até consigo, mas uns tempos depois constato que não resolveu. É uma espécie de incapacidade. Incapacidade de fazer alguma coisa realmente significativa, e que possa mudar. Conheço tanta gente inspiradora. Gente que se dá pelos outros, e muda, muda a vida de quem está mal. Isto é maravilhoso. Intenso. Desafiante. É mais que voluntariado, mais que um donativo, mais que dar a mão. Trata-se de dar o tempo, a vida, a voz, o pensamento, as ideias, os objectivos, o dinheiro, as rotinas. DAR. Sim, eu conheço gente assim, e que se recusa à entrevista e à fotografia. 

E sinto-me pequeno. Muito pequeno. Sem resposta para a pergunta de início. É tudo maior que eu.

Até amanhã
Hélder