quarta-feira, novembro 27, 2019

NEM TODOS OS DIAS SÃO FELIZES



                                                                                                        fotografia J.P.F

A vida não é sempre feliz. Os dias do agora pedem-nos uma felicidade constante, exuberante, contagiante e por aí fora. Mas a verdade é que nem sempre a felicidade tem lugar no nosso coração. Hoje uma mãe abraçou-me em lágrimas porque o filho morreu na idade de ainda fazer nascer sonhos, e não de os morrer. Dizia-me que o normal seria ela morrer e ele viver para falar das memórias dela, e não contrário. Eu só a consegui abraçar e pedir desculpa por não saber dizer nada perante tamanha dor. A mulher, no seu rosto de profundo luto, disse-me que não há nada para dizer, a vida tem de continuar, mas não sabe como. Não faço ideia da dor que é uma tal inversão do ciclo da vida, uma mãe órfã do filho único. Inexplicavelmente triste.

Vim embora, fazer a minha vida. Porque esta é a mais cruel das realidades. As pessoas que nos rodeiam adoecem, morrem, enviúvam, separam-se, perdem-se, e nós continuamos a nossa vida. Porque tem de ser. Porque é a nossa vida. E porque, em bom da verdade, a nossa vida pode continuar. Sorte a nossa. A morte é transformadora. Ainda não sei se para melhor. Quem nos morrer deixa em nós o lugar vazio, e esta é a pior resposta para a vida, para o diálogo, para o abraço, para o amor. Um lugar vazio de nada. Uma não resposta a qualquer pergunta. Fica-nos o que fomos quando éramos vidas antes da morte, fica-nos os momentos que agora serão todos diferentes, as datas de aniversário, as visitas, as gargalhadas, os vícios, os hábitos. Todos os momentos nos recordam quem foi, simplesmente foi. E tudo nos lembra a falta, e como seria diferente se ela ainda aqui estivesse, se ele ainda aqui me abraçasse. As fotografias resgatam os momentos antigos e temos raiva de não ser aquela fotografia que mantém aquela presença, tão perto da realidade que custa acreditar que já não é assim Viveremos para sempre com a ausência, e isto é uma dor cortante, escura, sombria, onde a luz tem muita vergonha de entrar.

Um abraço a todos a quem lhes morreu uma parte da vida.

terça-feira, novembro 19, 2019

VIAGEM. MESMO SEM DINHEIRO



                                                                                                                   HABANA.HR


Tirei esta fotografia em Habana. Confesso, é dos meus países de eleição. A musicalidade, a cor, a autenticidade do seu povo, a resiliência, a história. Não temos outra forma de conhecer um país, a não ser ir. 

Viveria sem muitas das coisas que o meu dinheiro compra, mas dificilmente viveria sem viajar. E a minha jornada ainda agora começou. Caro? Pode ser, depende sempre de como viajas, com quem viajas, e das opções que fazes durante o ano. Mas não precisas de dinheiro para te perderes nas ruas de um país, ires fotografando, olhares a vida das outras vidas, entrares numa mercearia, comer na rua, passear em todas as horas da luz e da lua, procurar as ofertas gratuitas... ires, o melhor verbo para o viajante.

Afonso Cruz tem um livro imperdível sobre viagens, JALAM JALAM, um hino a todo o que se inquieta por novas culturas, detalhes de civilização, cultura da simplicidade fora de portas.
 É pela ferida que entra a luz, é um dos textos. Não pode haver verdade mais absoluta para quem quer curar as feridas da vida, e encontra o remédio numa viagem.

Podemos ser tudo o que quisermos, mas seremos sempre menos se nos deixarmos no comodismo de não ir. É só fazer as devidas opções. Para quem tiver a sorte de poder, ou querer, optar, claro. O regresso de uma viagem nunca nos traz iguais, confesso, já sou muitas vezes diferente daquilo que fui, e raramente volto para trás.

Boas viagens

Hélder


segunda-feira, novembro 04, 2019

SAÚDE, MUITA SAÚDE


                                                                                                  imagem J.P.Freitas

Há alguns anos, sem premeditar, comecei a despedir-me em televisão, e numa vida mais real, com os votos de saúde. É no que acredito, e no que de melhor posso desejar a quem cumprimento, me despeço, ou me vê pelo televisor.

A vida é sempre cheia de planos, estratégias, agendas, sucessos, fracassos, amigos e inimigos, dores de cabeça ao deitar com tanto que ficou por fazer, mas quando a saúde nos falha parece que o nosso corpo ganha uma dimensão extra, sem o qual a vida não marcha; e é mesmo assim. Sem saúde a vida emperra, o amor murcha, as guerras esfumam-se, os planos ficam em páginas em branco. 

A vida tem sido muito generosa comigo, a saúde tem-me agraciado com afáveis dias. Bons sorrisos. Procuro espremer o meu tempo ao essencial. O meu essencial é saúde, amor, paz e trabalho. Por esta ordem, precisamente, sem tirar nem por. Esta é a minha lista de felicidade. Não preciso me confrontar mais com o que a privação de ter um corpo saudável provoca na vida; por isso deixei de ter tantos problemas, e de combater qualquer expectativa e ansiedade, só pelo simples facto de estar a conseguir reduzir a minha vida ao que defini como essencial. E sorrir, sorrir de dentro para fora.

Saúde, desejo-vos muita saúde


Hélder