quinta-feira, abril 25, 2019

HÉLDER, JÁ NÃO ÉS QUEM ERAS !




Na verdade, não sou nada quem era. Porque criei uma opinião que, orgulhosamente, não é sempre a conveniente, porque penso no que digo e quando pertinente, digo; expresso-me, porque vejo e retenho, porque ouço e destrinço. Porque não alimento verdades que servem interesses.

 Pobres aqueles que não sabem o valor dos olhos, da boca, das mãos livres, dos ouvidos astutos. Antes deste saber dos meus sentidos, recolhia-me dentro de mim, com um certo medo da afirmação. Mas caramba, que medo pode haver em ser fiel a mim e não andar ao sabor da opinião dos outros, como bailarina de vontadinhas que não as nossas? A sociedade, a família, os amigos, os colegas, têm uma certa habilidade em nos esmagar o eu, e só nós podemos salvar a nossa identidade. Só nós.

A vida exige atenção, a atenção pressupõe mudança, e quem não nos acompanha fica pelo caminho, aquele caminho que visualizamos para a nossa vida, e tantas vezes o retratamos em belas fotografias, selfies incríveis e frases feitas, ditas por outros. Não acredito em caminhos solitários, mas também sei que deixamos no passado quem não nos acrescenta para futuro. Sei bem do que falo. E estou certo que quem me lê também já sentiu este desapego para a demanda do avançar caminho!

A vida das pessoas livres não é fácil, mas é tão mais intensa, sedutora, perfumada, rasgada, autónoma, descalça, serena, revolta, levantada, independente.

Tenho 43 anos. Nunca usei tão bem da razão livre dos meus sentidos, da minha inteligência emocional, como agora. Esta liberdade não tem preço. Não vale a pena taparem-nos os sentidos com fitas coloridas ou camufladas de bondade e inocência. quem tentar abafar-nos a existência é como que um assassino de carácter. Matar um carácter é um crime indefensável no tribunal que julga as almas pesadas de culpa e de falsa moralidade. Nem todo o ladrão que rouba para comer, deixa de ser ladrão por ter fome.

Natália Correia escreveu tão bem: Não há revolta no homem que se revolta calçado. Tenho a sorte de desde muito cedo gostar de andar descalço; agora percebo porquê!

António Variações deixa nesta canção uma bela lição!


Divirtam-se.

sexta-feira, abril 12, 2019

AMOR DE ALECRIM






Com o risco do excesso, não vivo sem alecrim. É um arbusto, abunda em Portugal, gosta de lugares secos, e se o tempo for quentinho, dá flor todo o ano. A medicina e a farmacêutica gostam do seu uso. Das flores do alecrim retira-se uma água destilada que se chama: água da rainha da Hungria, sorte da rainha que desta água faz uso. A flor é singela e de um azul apaixonante. Uso a flor na minha cozinha, o alecrim nas minhas infusões, nas batatas assadas, no pão torrado com azeite; coloco-o na mesa, para receber visitas, e ofereço-o sempre a quem mais gosto. Um vaso de alecrim, é o amor plantado. Os romanos faziam coroas de alecrim e com elas celebravam divindades. Para o cristão é símbolo de fidelidade. Para mim, é a melhor expressão da festa.

O alecrim serve a dor e a alegria. Nos países nórdicos, os caixões são cobertos de alecrim. Acredito que para perfumar e perpetuar a vida. Eu uso-o sempre para celebrar. Há um provérbio que nos diz. Quem pelo alecrim passou e dele não colheu, ou nunca teve amor, ou dele se esqueceu. Eu tenho uns 10 alecrins em casa, e quando na rua passo por um, apanho sempre um raminho. Enquanto lhe escrevo, bebo uma infusão perfumada de alecrim. Tenha alecrim perto de si, porque rapidamente se vai aperceber que aos molhos, só mesmo os de uma vida boa!

até já

quinta-feira, abril 04, 2019

OS LIMÕES DESTA VIDA!!






Quando olho para um limoeiro olho para um lugar perto da perfeição. Frutos que me fazem lembrar o verão de todos os anos, um aroma a liberdade, a perfeição na cor. Apanhar um limão é a soberania da vontade própria. Afinal é fácil ser soberano de nós mesmos. Não que o limão seja o tesouro que nasce nas árvores, mas é a melhor personificação que tenho do tempo. O meu tempo de infância, quando fazia limões espremidos na água fresca do poço; o meu tempo de espera para que o limão ganhe a cor certa para ser colhido, o tempo de o descascar, espremer, para usar à volta de uma mesa.

Limão e solidão rimam, provavelmente andam juntos, neste movimento animal da existência. Honestamente, casam-se bem. Precisamos de limão para uma boa limonada, e de solidão para o crescimento. Não há outro remédio para a maturidade, uma boa dose de solidão. Olhar para a janela, perder-se nas paredes de casa, viver no horizonte mais infinito que avistamos da varanda. Incomodarmo-nos com os nossos pensamentos até que eles sejam pronunciados. Confrontar a ideia. Chegar perto de um limoeiro e apanhar um cesto de solidão, e só depois fazer com ela a vida, como se fosse limonada, como se tudo fosse um solene limão. Da mão ao pensamento, da boca ao sumo, do corpo à inteligência.



Arranjo gráfico David Reis