quinta-feira, julho 02, 2020

O QUE ME DÃO OS DIAS SEM TI






Gostava de passear-se pelo jardim e de tocar nas suas flores, que eram como que a sua voz com raiz. Enquanto as observava, deixava que o sol lhe escorresse pelo rosto, aumentando o brilho dos seus olhos. Era uma mulher que gostava da luz pelas janelas e de flores em cima da mesa. Até os seus vestidos tinham flores, das pequenas, e que ela havia moldado e costurado numa das madrugadas dos dias que já passaram. Levantava-se cedo. Dizia-me que é cedo que acorda a vontade de viver. Durante o dia rodopiava-se pela terra e pela casa, que era branca; ao fim da tarde cheirava a maresia no jardim, e muitas vezes a via parada a respirar-se, porque nem sempre a vida lhe permitia grandes pausas para lufadas de ar. Nesses momentos, sentia-a tão perto da perfeição, entre o mar e os jardins em flor.
Porque a vida pode ser feita com o melhor do passado.

Para a minha mãe. 5 meses sem ti.

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