segunda-feira, fevereiro 06, 2023

O MEU EQUILÍBRIO

 

                                                                             Fotografia Arlindo Rego


Equilíbrio. Uma palavra estupenda, um exercício complexo. Estou longe da perfeição, mas perto do que não quero. Desde a morte da minha mãe que a minha vida assumiu diretrizes diferentes. Os problemas relativizaram-se, os objetivos de vida tomaram outro caminho, as minhas relações mudaram. O meu equilíbrio começa em mim. Sozinho. Calado. Contemplando. Mais ninguém pode fazer isto por mim, e há gente que atrapalha este caminho. Não é por mal, claro. Mas são pessoas complexas, com egos grandes, raramente olham para o lado e quase nunca abdicam de si pelos outros. São o maior ruído da minha vida, e um obstáculo ao meu equilíbrio. Não são nem mais, nem menos que eu, mas não podem fazer parte da minha balança. Do meu equilíbrio faz parte muita vida que não só pessoas, claro, mas agora é delas que falo.

Raramente me perguntam como estou depois da morte da minha mãe. Já lá vão 3 anos. É um problema meu. Como sabem, o luto demora anos a sarar. Sinto que estou no caminho certo, mas era reconfortante sentir interesse de quem até parece interessado, mas não. Tal como outras felicidades ou tristezas, que devemos perguntar, querer saber, mostrar interesse. Sermos interessados revela a maior humildade relacional da humanidade. E as pessoas... as próximas e as outras podem erguer e poluir, ao mesmo tempo.

Não é um: estás bem? ou fixe? ou qualquer outra generalidade, que me vai dar vontade de partilhar. A uma pergunta geral... respondo com generalidades, e fico a conhecer melhor o interesse do outro. Para o meu equilíbrio escolho os pesos para a minha balança, e como até treino mais o meu corpo, começo a conhecer bem os limites dos músculos da minha carne e da minha alma.

A atenção, exercício fulcral na vida, é muito difícil para quem a vida é camuflada de um umbigo gigante e plena de bons argumentos desiquilibrantes... :) precisei de criar esta palavra!!!


Divirtam-se e estejam atentos... a quem importa, MESMO!

Hélder

terça-feira, janeiro 03, 2023

 


Ano Novo... os meus votos, são... não ter votos. Eu explico. Já todos percebemos da rapidez da vida, uma água que ferve e rapidamente se esfria. Não fazer grandes planos é o maior plano da vida, da minha vida, entenda-se. Baixar todas as expectativas, sobre pessoas, relações, trabalho, conquistas... tudo em níveis bastante modestos. Isto é o que eu quero para o meu ano de 2023.

Porquê? Assim não alimento a frustração, e deixo que a vida me surpreenda. Farei o que me compete, é isso, ser competente no dia a dia, mas não mais do que isso. Quanto aos sonhos, permito-me sonhar, mas sem grandes voos, tal qual os pássaros quando ainda não estão no ponto para sair do ninho. Proteger-me. Prefiro assim, enquanto puder. 

Isto não significa resignação, perda de ambição, acomodação. Nada disso, isto é o maior desafio da minha existência, não planificar tanto e tudo, até estragar os planos que a vida teria para mim. ( mestre Agostinho da Silva)... deixar acontecer, estar focado, ser eficiente, e respirar...


BOM ANO

segunda-feira, outubro 10, 2022

SAÚDE MENTAL

   

Há muitos anos tive um esgotamento nervoso e uma depressão, ainda não estava na televisão. A depressão repetiu-se anos mais tarde. Nunca me falaram de saúde mental, nem eu nunca falei disto. Sinto que para vivermos a vida de hoje, temos de ter uma grande estrutura mental, familiar, física. Isto é basilar para a saúde mental. Eu nem sempre tive estes pilares. Quem nunca? Hoje? Sinto-me forte, seguro, sereno, por dentro e por fora. Não inabalável, mas consciente da minha fragilidade e com isso erguer a minha força.

    No seminário era normal a prática de longos tempos de silêncio e reflexão. Isso ajudou-me muito a encontrar-me cá por dentro e entrar no caminho da meditação pelo silêncio e pela respiração. Sou muito grato ao meu passado, à ajuda da minha Cristina Alves, instrutora certificada de meditação e à minha Joana Teles, que criou um projeto incrível, a DAOQUI, que além de tudo, promove a saúde mental. A vida é assim, vai-nos orientando. Eu salvei-me da depressão. Cultivei a minha saúde mental, inteirei-me do que é uma boa e uma má saúde mental. Não acho que o país esteja totalmente preparado para a doença mental, mas já esteve pior. E se não for pelo estado, há muitos sítios que podem ajudar, mas saibam escolher... há muita charlatanice. O que faço hoje?

Medito, ouço a minha música, respiro conscientemente, faço desporto, uma boa alimentação, durmo, cultivo o tempo, reduzi os meus contactos a pessoas que me fazem bem, procuro fazer o que me realiza, acrescenta valor e dá futuro, cultivo plantas, sou agricultor, escrevo. Realativizo. Se consigo sempre? Não; mas para isso é que serve o dia seguinte.

    Cuidem da vossa saúde mental

terça-feira, setembro 06, 2022

VIVO COM A DOENÇA DE MÉNIÈRE

 

Ora viva

É, sou doente ménière. Não é grave, mas, por vezes é violento. Há muita gente a padecer desta doença. Zumbidos, vertigens, perda de audição. Não é um drama, mas não é canja. Solução? Não há. Medicação, bons médicos, dieta, muito desporto e reduzir o stress. Não cura, mas atenua. Assim tenho de viver, com o que a vida dá, e não dá, e fazer disso coisas boas. Como ver na doença coisa boa? Pois, não sei, mas vejo coisas boas em fazer mais desporto, ter mais cuidado com o que como, ouvir mais o meu corpo, cultivar a calma, relativizar. Ter mais atenção, isso é bom. Não?

Não só minimiza o ménière como ajuda na vida toda, e eu gosto de olhar para a minha vida como um todo. Não temos tesouro maior do que a saúde. A que temos, não é a que adorávamos ter. Estimar o corpo, ter tempo para amar, viver, ter calma na respiração. Parar. Só tenho este corpo, esta vida, e este momento; não posso dar cabo de tudo com inconsequências e perdas de tempo. A minha vida é agora. Não é só no ménière, aplico a tudo, TUDO. Que se lixe a correria e o era para ontem. Nada está primeiro do que a minha saúde, porque sem ela, tudo o resto não rola...

Quem está comigo? :)

segunda-feira, julho 25, 2022

Nunca gostei de homenagens, mas...

 


É a mais pura das verdades. Não gosto de festas surpresa, homenagens e elogios. Mas apercebi-me que a recusa a quem nos quer fazer este agrado é um sinal de muita arrogância e pouca humildade. Como cultivo a gratidão e a humildade, aceitei a recente medalha de mérito cultural, oferecida pela câmara de Ovar, na pessoa do presidente Salvador Malheiro. Aceitei porque o Salvador Malheiro é um homem por quem nutro muito respeito. Aceitei porque era uma forma de eu cultivar os valores da responsabilidade, da capacidade de criticar, de me envolver, de ser mais humilde e melhor cidadão. Aceitei porque assim sou chamado a dar mais pela terra do meu pai, e concelho do meu berço, a cidade de Esmoriz. 

Ovar é a cidade do azulejo, do mar, do cantar dos reis, do carnaval. É uma cidade feita de cor, praças pequenas com árvores antigas, recantos que apetece guardar e comércio tradicional. É um encanto de uma cidade. Quando era filho, ia com os meus pais fazer vida em Ovar, que dias felizes. Foi na biblioteca de Ovar que preparei grande parte da minha tese de Teologia. O furadouro, a sua praia. Os vareiros, a sua gente, nós que lhe conhecemos o sal.

Aceitei. Recebi a medalha e ficou a vontade de abrir as muitas ideias que tenho para esta terra, como cidadão. Tenho críticas a construir. Por tudo isto aceitar foi importante, é uma vaidade boa, a que incentiva a ser melhor. É preciso saber receber, tão importante como saber dar.

quinta-feira, maio 26, 2022

O SILÊNCIO CALA


 Comecei a ler o incrível livro A BIOGRAFIA DO SILÊNCIO. Recomendo, pensava eu que sabia muito desta arte! Sempre fui dado a esta prática. Tive uma infância muito feliz, cheia de amigos, na rua, na praia; mas lembro-me bem de passar belas tardes sozinho, com as minhas coisas, a desenhar os meus sonhos, calado e sossegado. Não sou dos calados, sou dos que fazem silêncio, como prática, como estratégia, como arma. O silêncio é uma singela e pertinente luz de presença na nossa mente. Eu acho que a voz da alma é o silêncio, por isso nunca fica rouca. Tenho a tentação de falar sobre as pessoas que disparam palavras, atropelam a conversa dos outros, e são péssimos ouvintes, mas satisfaz-me referencia-los...

No seminário fazíamos uma semana de retiro em silêncio, mais do que uma vez por ano. Na altura, não percebia a validade; curiosamente, hoje, olho para esses dias como períodos de elevada maturação, como se fossem a estufa do meu ser. Estar calado tanto tempo, tantas vezes, tantos anos, edificou-me. Nunca tenham receio do silêncio, recomendo prevenção face aos ininterruptamente barulhentos.

Até já.

terça-feira, abril 12, 2022

A vida pela metade?


 

A vida não tem medidas para ser metade.

Ou é inteira ou não é nada.

Ou sofremos ou sorrimos.

Não podes sofrer e rir ao mesmo tempo.

Não podes viver a meio tempo e o outro meio morreres.

São poucos os que vivem mortos, mas ainda os há. 

Ou morreram de amor, ou lhes mataram o amor. Neste caso, a vida pode ser metade.

O amor é o único apocalipse das metades permitidas.


Hélder Reis